Quem trabalha em contato entre as áreas de Suporte e Desenvolvimento provavelmente vai ter algumas lembranças de momentos pouco “amistosos”, ou de pressões sofridas sob protestos de uma ou outra parte. Muitas vezes, as diferenças culturais e de objetivos podem gerar atrito e irritação entre os colaboradores, e o fluxo de valor nem sempre é claro e bem unificado.
No dia 12 de maio de 2021, nós tivemos uma (amigável) discussão sobre esta “polêmica” no webinar Desenvolvimento + Suporte: precisamos falar sobre isso!. Junto ao nosso CEO Omar Branquinho, representando o Suporte, estavam Marcelo Walter e Danilo Garcia, gestores de times ágeis na Objective, representando o Desenvolvimento.
Abaixo, nós separamos alguns momentos da conversa. Vem conferir!
“Qualquer conflito é essencialmente uma diferença de valores”
Omar
O papo começou abordando as diferenças entre as duas áreas, que são muito associadas à própria natureza da execução em cada. Como comentou Omar, enquanto o Suporte normalmente preza pela estabilidade, por ter um sistema funcionando, o Desenvolvimento por vezes olha mais para a evolução e planejamento de melhorias.
Então a conversa rapidamente envergou para uma das principais consequências desta particularidade: a diferença no “ritmo” entre Suporte e Desenvolvimento.
Marcelo ilustrou a seguinte situação: o agente de suporte cobrando uma execução mais rápida do desenvolvimento (para corrigir um bug, por exemplo), enquanto o desenvolvedor está preocupado com os impactos e etapas necessárias até que a correção esteja no ar. Apesar de parecer uma pressão “injusta” por parte do atendente, ele também pode estar sobre pressão pelo cliente que não pode esperar mais.
Algumas vezes a complexidade da solução não está clara para o Suporte, assim como a situação no cliente não é visível ao desenvolvimento. Danilo mencionou ainda as “nightly builds” e outros obstáculos como o linguajar (especificação imprecisa ou insuficiente, por exemplo) que dificultam a transparência entre as áreas.
Marcelo comentou ainda sobre casos de intercâmbios entre os departamentos, onde desenvolvedores vivenciam a realidade de suporte e vice-e-versa. Desta forma cada time terá uma noção das principais dificuldades enfrentadas pelo outro e poderá agir de forma a amenizá-las.
Outro ponto, discutido a partir de uma pergunta do público, foi sobre como estruturar o “meio-campo” entre as duas equipes. Segundo a regra de bolso do Omar: uma posição onde a única função seja fazer a “troca” de informações, não deveria estar em um processo eficiente.
Veja mais detalhes no vídeo:
Ao falar sobre o “rodízio” de colaboradores entre departamentos, Danilo forneceu alguns exemplos de resultados de integrações bem-sucedidas, como a descrição por parte do atendente dos testes de reprodução, com os procedimentos que devem ser executados pelo desenvolvedor. Outra experiência de integração que vivenciou foi a inclusão do Suporte nas reuniões de retrospectiva de um time de desenvolvedores, reduzindo o ciclo de feedback no projeto.
“Quando você quebra este paradigma de que é só ‘uma coisa chata a se fazer’ e entende que Suporte é uma área necessária para o crescimento do produto, eu vejo a coisa funcionando muito bem.”
Danilo
Apesar da experiência positiva, como lembrou Marcelo, é importante encontrar o equilíbrio entre documentação e dinamicidade para que o andamento do processo não seja prejudicado. Sobre o “rodízio” entre times, nossos participantes concordaram que, apesar de gerar intimidade, não é suficiente para sanar o problema sem outras melhorias no processo.
Então, o que é prioridade na integração entre estes dois mundos?
“Você tocou em um ponto importante, mas que a gente vê bem pouco por aí, que é estar no mesmo fluxo de valor”
Marcelo
Dar visibilidade do fluxo como uma só entrega de valor, e não como áreas com problemas e processos isolados, pode melhorar bastante o relacionamento, pontua Marcelo.
Omar comenta que, na sua empresa anterior, o desenvolvimento trabalhava com uma ferramenta diferente do Suporte e não integrado ao software de helpdesk. Isto gerava um “buraco” não só de integração, mas também de gestão, a partir do momento que existiam dois backlogs (estoques) distintos.
Para resolver esta divergência, todas as demandas precisaram ser correspondidas e reavaliadas. Para gerar o senso de urgência e noção de volume, estes itens foram transformados em post-its e transferidos para uma parede. Como disse Omar: “Não tem coisa mais importante do que o impacto visual de uma parede cheia de post-its de coisas para fazer!”.
Isto possibilitou a construção de uma nova mecânica de trabalho com maior visibilidade para todos os envolvidos, antes de levar tudo para o software do dia-a-dia. Todas as etapas dos trabalhos do Desenvolvedor e do Suporte estavam, agora, mais claros aos dois times.
Você provavelmente já entrou em contato com algumas equipes de suporte na sua vida, certo?
Quantas delas resolveram o problema na hora? Quantas precisaram encaminhar a solução à outros departamentos?
Esta foi uma questão levantada pelo Marcelo: até que ponto o atendimento (em empresas de TI) deve “colocar a mão na massa” e fazer de tudo para resolver o problema do cliente sem depender de outro departamento, como o desenvolvimento?
A resposta para esta questão, como ficou claro na discussão, não é tão simples: existem pós e contras de se dar autonomia e concentrar tarefas nas mãos de um mesmo agente, e a resposta tangencia também a gestão de conhecimento abordada nas seções anteriores.
“O Chuck Norris do atendimento tem dois problemas: replicar o Chuck Norris é difícil, e o Chuck Norris não é imortal. O processo precisa estar acima das pessoas, mesmo sem tirar o protagonismo.”
Omar
O “atendente Superman”, como apelidado pelo Omar, encontra problemas na sustentabilidade a médio e longo prazo. Mencionando o artigo sobre o ciclo de vida do atendimento (este aqui), ele lembrou do momento em que a equipe cresce e o contexto passa a estar distribuído, dificultando a gestão do conhecimento. Logo, embora o atendimento que atua em outras áreas (vendas, desenvolvimento, entre outras) seja uma vantagem em equipes novas e pequenas, ele representa um problema de produtividade visto que pode esconder um processo ineficiente.
Em suma, processos não podem depender inteiramente de alguns colaboradores, as informações e procedimentos devem estar bem estabelecidos e claros para que seja possível escalar.
Outro ponto que foi discutido, desta vez a partir do comentário do público: a função do atendimento, antes de “segurar” o cliente, é de alinhar as suas expectativas, e esta é uma fonte de conflito entre as duas equipes.
Logo a conversa chegou ao SLA, ou Service Level Agreement. Como fazer com que a expectativa do cliente esteja alinhada com um processo que depende de duas (ou mais equipes)?
Marcelo lembrou que falar de expectativa de prazo é falar de previsibilidade e, portanto, em minimizar a variabilidade do fluxo de entrega.
“A partir do momento que você diminui a variabilidade, passa a ter mais previsibilidade. Na boa, o pessoal diz que desenvolvimento é um processo completamente artesanal, mas não é.”
Marcelo
Dentro deste raciocínio, ocorrências que saem do esperado são raras e assim é possível ter uma certeza bastante alta do tempo necessário para a entrega a partir dos dados do próprio sistema.
Veja a discussão completa no vídeo abaixo:
Omar ainda acrescentou que o SLA não é apenas medir e calcular a partir do seu próprio processo, mas trazer a expectativa e necessidade do cliente, forçando um padrão de qualidade desejado.
“Dado que a melhor maneira de medir o atendimento é o SLA e a satisfação, uma coisa que é muito boa na minha visão é você ter metas compartilhadas entre as duas equipes.”
Omar
A partir do momento que Suporte e Desenvolvimento estão em um mesmo fluxo de valor, que os processos já foram estruturados de forma transparente e com experiências compartilhadas entre os departamentos, você passa a olhar o processo como um só. Sendo assim, faz todo sentido que as principais métricas sejam compartilhadas.
Confira o depoimento completo:
Após a fala do Omar, o Danilo ofereceu um exemplo de como a visibilidade do fluxo entre Suporte e Desenvolvimento permite identificar e tratar os gargalos. Naquele caso, apesar de todas as suspeitas apontarem para uma demora no trabalho dos desenvolvedores, verificou-se que a etapa mais custosa em termos de tempo era a devolução pós-desenvolvimento.
“Como diz a Teoria das Restrições, o processo sempre tem gargalos. Em processos de serviços, qualquer fila pode ser um gargalo a qualquer momento, e monitorar estes processos é ainda mais importante do que no processo fabril, onde os padrões são mais claros.”
Omar
Logo após a questão dos gargalos, Marcelo trouxe a conversa para a priorização. Ressaltou a importância de tratamentos adequados à cada “classe de serviço” (ou “categoria”) e como estas diferentes categorias terão, portanto, metas (sobretudo SLAs) diferentes.
Falando mais um pouco sobre a definição do SLA, Omar mencionou que já viu muitas equipes de suporte que não mediam o SLA por medo do número e como isto inevitavelmente vai resultar em prazos impostos, e não acordados.
Apesar de tantos temas abordados, ao final do webinar, ainda não foi possível falar de todos os pontos planejados.
O relacionamento entre duas equipes tão importante para o suporte e entrega de valor ao cliente é um tema complexo, claro, e merece muita atenção.
Se você quiser conhecer mais sobre as duas empresas envolvidas neste conteúdo, se liga nas dicas:
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A Objective é uma desenvolvedora de software que oferece consultoria a fim de gerar processos mais ágeis.
Saiba mais sobre o serviço e confira também nosso artigo sobre Fluxo Unificado, que tem muito a ver com o assunto discutido aqui.